Jordana Prass Hagemann, 33 anos, tinha medida protetiva contra o ex-companheiro. Descrita como gentil e corajosa, era conhecida pela comunidade por atuar pelos direitos das mulheres e trabalhadores rurais
Destemida, trabalhadora e envolvida com as causas dos trabalhadores rurais e das mulheres: assim foi Jordana Prass Hagemann, 33 anos, vítima de feminicídio na manhã de terça-feira (16), em Fortaleza dos Valos, no norte gaúcho.
Momentos antes de ser morta, Jordana tentou contato com o pai e a mãe, de quem era muito próxima. Por meio de mensagem, ela informou a família de que o ex-marido, Evandro Henriques de Campos, 52, havia se aproximado se sua casa.
Jordana tinha uma medida protetiva contra ele desde março. Em junho, Evandro descumpriu a ordem ao ameaçar a mulher por mensagens. Por isso, a Polícia Civil pediu pela prisão preventiva, mas a decisão judicial ainda não havia saído .
Depois de matar Jordana a tiros, Evandro atirou em si mesmo e também morreu no local. Os filhos do casal, de cinco e 11 anos, estavam na escola no momento do crime.
A dor de perder a filha ainda é digerida pelo pai, João Severo Hagemann:
— Ela era meu braço direito, desde pequena. Lembro quando ela tinha nove anos, eu fiz uma cirurgia e ela tomou conta do meu serviço na roça. Eu estou sem chão.
O corpo de Jordana está sendo velado na capela municipal de Fortaleza dos Valos, com enterro marcado às 15h30min, no Cemitério Luterano de Fortaleza dos Valos.
O amor pela causa rural descrito pelo pai se manteve até a fase adulta: Jordana ocupava o cargo de vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Fortaleza dos Valos desde 2022.
Atualmente, ela dividia a rotina com um emprego formal em uma empresa de gastronomia e o cuidado dos dois filhos. No trabalho, se destacava pela tranquilidade e excelência, como descreve a chefe, Rosi Stefanello:
— Ela chegava sorrindo, era tranquila e se sentia segura ao meu lado. Viajávamos longe para eventos e todo mundo olhava para ela. Estava sempre sorrindo, com ela “não tinha ruim”, ela era destemida. Era uma pessoa que queria viver, voar.
Para as amigas de infância, Jordana será lembrada pela garra que teve nos últimos meses, ao tomar frente da família e sempre ter tempo para se doar aos outros. A mulher era uma pessoa ativa na comunidade e fazia parte de muitos grupos com foco no protagonismo na mulher:
— Como estava em contextos de interior, onde é tudo predominantemente masculino, ela lutava pelo nosso espaço, estava sempre a frente dessa luta. Encarava a vida destemida, era o que nos fez admirá-la ainda mais — resume a amiga Eduarda Soares.
— Depois da separação ela trabalhou de babá, fez faxina e agora estava nesse setor de eventos. Ela não se acomodou. Estava em paz consigo mesma e com a liberdade dela. Cuidava dos filhos e era dona da própria vida— afirmou a amiga Tamara Terres.
Segundo o relato de amigos próximos, o crime pode ter sido motivado pelo fato de Evandro não aceitar o fim do relacionamento. O casal esteve junto por cerca de 15 anos, mas a relação havia encerrado há oito meses.
Jordana tinha uma medida protetiva vigente contra o ex-marido desde março. Em junho, ele chegou a descumprir o acordo ao ameaçar a vítima de morte pelo celular. Após o caso, a Polícia Civil encaminhou um pedido de prisão preventiva de Campos, mas a decisão judicial não foi atendida a tempo.
A reportagem de GZH entrou em contato com o Fórum de Cruz Alta, que representa a cidade de Fortaleza dos Valos, para questionar sobre a demora da permissão para prisão, mas não obteve retorno até o momento da publicação.
As investigações, de responsabilidade do delegado Dieison Garcia Novroth, apontam que Jordana foi morta com um tiro na cozinha de casa. A arma usada no crime foi encontrada carregada.
Ainda conforme o delegado, não foram encontradas marcas de arrombamento ou detalhes que indiquem como Evandro teria entrado na residência.
— No celular não havia registro de contato recente com o ex-esposo. Encontramos mensagens dela para os pais, então indica que ela teria avisado o pai e a mãe no momento que o suspeito chegou na residência dela — explica o delegado.