Metade norte tem ervais com mais de 2 mil arrobas por hectares. Cidades exploram o produto no turismo, gastronomia e terapias alternativas
Cultivada em quatro países da América Latina e outros quatro estados brasileiros, a erva-mate tem seu uso mais popular no chimarrão, mas passou a explorada em outras formas no território gaúcho. No norte do Rio Grande do Sul, o produto se destaca também no turismo, gastronomia e até em terapias alternativas.
Hoje o RS tem cerca de 31 mil hectares de área plantada de erva-mate, presentes em 205 municípios, conforme dados do programa para Qualidade e a Valorização da Erva-Mate, do governo gaúcho.
No RS, a maioria do plantio fica na região do Alto Taquari, com 19,2 mil hectares. O restante é distribuído da seguinte forma:
Além da área territorial, o norte chama a atenção pela diferença na forma de cultivo e de exploração da matéria-prima. Conforme o engenheiro-agrônomo da Emater e coordenador da Câmara Setorial de Erva-Mate no RS, Ilvandro Barreto de Melo, a região se destaca ao nível nacional:
— Nosso diferencial está na forma em que a erva-mate é trabalhada. Temos muito apoio da pesquisa, desde os anos 1990, com instituições que auxiliam na extensão rural, fazendo nossa produtividade crescer. Hoje a produção média do Brasil é de 555 arrobas por hectare, e a nossa região tem ervais acima de 2 mil arrobas por hectare.
A evolução da produção na região está ligada ao uso de tecnologias de desenvolvimento e utilização de variedades da erva. Em Machadinho, a Associação dos Produtores de Erva Mate faz este acompanhamento há 40 anos, presente em quase todas as propriedades da cidade, com cerca de 560 produtores cadastrados.
— Temos um processo desde a produção de sementes com variedades registradas até a exportação para vários países. O setor evoluiu muito no estabelecimento de tecnologias, como o sombreamento com espécies nativas, adubação, utilização da variedade Cambona 4 (que dispensa o uso de açúcar na erva), espaçamento adequado e controle de insetos com produtos biológicos — explica a presidente da associação, Selia Regina Felizari.
Além do desenvolvimento da planta, a região também se destaca nos variados usos da matéria-prima. Em Machadinho, um resort utiliza erva-mate na hidroterapia, combinando os bioativos da erva aos benefícios da água termal.
Na área do turismo também há exemplos de hotéis que utilizam o produto em fórmulas de shampoos, condicionadores e produtos cosméticos. Na gastronomia, há rótulos de cervejas e cachaças com erva-mate na composição.
— Seu uso continua sendo muito explorado no Estado. As cidades do norte oferecem também visitas pelas plantações, e circuitos para turistas. São inúmeras as formas de utilizá-la, e estamos aproveitando essas frentes — resume de Melo.
No caso da família Pagnussat, em Marau, a venda da erva-mate percorre gerações há 100 anos. Eles compram a matéria-prima e a manipulam em processos artesanais. Até ser ensacada, a erva passa pelo fogo e secagem, até ser “quebrada” e socada, para ser comercializada.
Além dos pacotes, a empresa também comercializa trufas e licor de erva-mate, que pode ser encontrado diretamente na loja, em Marau.
— Hoje enviamos para todo o Estado, além de termos revendas em outras cidades. Não temos representantes comerciais, hoje muitos clientes compram para consumo próprio ou revendem em suas cidades — comenta a sócia-proprietária Thalia Pagnussat.
Ainda conforme o engenheiro-agrônomo da Emater, a expectativa para a safra de 2024 é de colher entre 310 e 320 mil toneladas de erva-mate verde. O total deve ter um incremento na produção, como explica:
— No momento estamos fechando o período de plantio, mas a colheita continua o ano todo, só muda a forma de colher e podar conforme a estação. Neste ano, a expectativa é melhor que os anos de estiagem, em que tivemos perda de 30%. Mas a chuva nos ajudou, fez rejuvenescer os ciclos.