João Vitor Macedo, 15 anos, foi encontrado ferido na noite de 28 de março no bairro Agronomia e acabou morrendo no Hospital de Pronto Socorro
O delegado Rafael Sobreiro, da Corregedoria da Polícia Civil, afirmou que existem fortes indícios de que um policial civil realizou o disparo que matou João Vitor, 15 anos, no dia 28 de março, na zona leste de Porto Alegre, no Beco dos Marianos. Rafael ressalta, no entanto, que falta entender o contexto exato do caso, como aconteceu e por qual motivo.
Segundo as autoridades, o agente procurou apoio psicológico e psiquiátrico. O policial está afastado por 10 dias por motivos médicos e após retornar será realocado em um setor administrativo.
Ainda de acordo com o delegado, o policial está abalado e foi retirado do serviço de rua por vontade própria.
A Corregedoria espera concluir o inquérito em até 90 dias.
João Vitor Macedo, 15 anos, vivia com a avó paterna, no bairro Agronomia, na zona leste de Porto Alegre. Na noite de 28 de março, ele foi encontrado ferido no Beco dos Marianos. Encaminhado ao Hospital de Pronto Socorro, o adolescente não resistiu.
A Polícia Civil identificou a viatura do Departamento de Polícia Metropolitana e os agentes que estariam envolvidos na ação. Um dos indícios analisados é vídeo obtido por meio de câmeras de segurança de estabelecimento perto de onde João Vitor foi morto. Até o momento, as imagens das câmeras não chegaram a ser divulgadas pela investigação, mas a polícia confirmou a existência da gravação.
As imagens teriam registrado cenas de João Vitor e outro adolescente correndo na Avenida Bento Gonçalves, indo ao Beco dos Marianos, e de viatura seguindo na mesma direção, com o giroflex ligado. Algum tempo depois, o outro garoto retorna correndo e o veículo da Polícia Civil deixa o beco.
Neste momento, João Vitor já teria sido baleado — ele foi socorrido mais tarde por populares e levado ao hospital.
O adolescente, segundo a família, sofreu três paradas cardíacas e não resistiu. Com pedidos de justiça, na manhã da terça-feira (2), parentes e amigos realizaram protesto e fecharam a Avenida Bento Gonçalves. Foi quando o caso se tornou público.
João Vitor cresceu no bairro Ipanema, na zona sul de Porto Alegre, e, segundo a família, estava residindo temporariamente com a avó na Zona Leste. O adolescente havia estudado até o sexto ano e interrompido os estudos. O corpo dele foi enterrado no Cemitério Jardim da Paz.
Juliana Lopes Macedo, 34 anos, mãe do adolescente, conta ter ouvido que o disparo havia sido efetuado pela polícia. Familiares contaram que o próprio João Vitor havia repetido, no trajeto até a casa de saúde, que tinha sido baleado “pela Civil”. A mãe afirma que sua primeira reação foi duvidar dessa possibilidade.
— Quando me contaram isso no hospital, eu disse:“Não foi a Civil. Eles não fariam isso”. E segui dizendo que não. Pensava: “Deve ter sido um carro comum, atirou e João achou que era a Policia Civil”. Por isso ele dizia que era a polícia. Tinha aquela ideia de que nunca fariam isso — afirma Juliana.
A mãe relata que foi mudando o entendimento sobre o que pode ter acontecido com o filho nos dias seguintes, após ouvir o adolescente que garantiu estar na companhia de João Vitor quando ele foi baleado e também após imagens de câmeras, que mostram a viatura ingressando no Beco dos Marianos, serem obtidas em um estabelecimento.
O outro garoto contou que ele e João Vitor correram ao verem a viatura e entraram no beco, fugindo da polícia. A mãe diz que o filho já havia cumprido medida socioeducativa e acredita que, em razão disso, ele tenha escapado correndo. Depois disso, João Vitor teria sido baleado no peito, enquanto o outro conseguiu escapar.
— Vamos dizer que eles tivessem feito um gesto brusco, e por isso o policial atirou. Se não foram eles que atiraram, por que fugiram sem prestar socorro? Por que não chamaram os colegas? Se ele tivesse sido socorrido, tudo poderia ser diferente. Se eles me dissessem: “Socorremos, mas ele morreu a caminho do hospital”. Ou se estivesse fazendo qualquer coisa errada, que fosse abordado, que fosse cumprir medida. Existiam tantas possibilidades. Mas não atirar e ir embora, deixar ele ali — desabafa.
— Preciso de respostas, preciso saber o que vai acontecer com esses policiais. Eles é que deveriam nos proteger. Nada vai trazer meu filho de volta. Não estou buscando mídia. O protesto foi a forma que encontrei de me ouvirem. Não quero que isso aconteça com outras pessoas. Procuro justiça. E vou até o fim pedindo isso — diz a mãe.