Avô dedicado e apaixonado pela profissão: quem era o sargento da BM morto em assalto em Rivera - Agora Já -

Avô dedicado e apaixonado pela profissão: quem era o sargento da BM morto em assalto em Rivera



Paulo Aloir da Luz, 56 anos, morador de Sapiranga, na Região Metropolitana, deixa a esposa, três filhos e três netos

Foto: Arquivo Pessoal / Divulgação
27 de outubro de 2023

Na casa onde vivia com a esposa e o filho caçula, Paulo Aloir da Luz, 56 anos, tinha fotografias dos três netos — de nove, cinco e dois anos — espalhadas pelos cômodos. Era uma das formas de demonstrar afeto. Na semana passada, o policial militar morador de Sapiranga, na Região Metropolitana, saiu da residência, no bairro Centenário, para seguir até Rivera, no Uruguai, numa excursão de compras. Entre os itens que pretendia adquirir, estava uma bicicleta, que seria o presente de aniversário de um dos meninos.

No último sábado, dia 21, o sargento Aloir, que há 35 anos se dedicava à Brigada Militar, estava de folga, na cidade uruguaia. Criminosos armados interceptaram a van onde ele, outros dois passageiros e o motorista estavam. Durante o roubo, um dos criminosos ficou impaciente com a porta do veículo que não abria, por um defeito, e disparou na direção do policial. Atingido no tórax e no abdômen, o sargento foi hospitalizado às pressas a cerca de 600 quilômetros de casa. A família estava a caminho de Rivera, quando recebeu a notícia de que Paulo Aloir não havia resistido.

Dois dias depois, o corpo do policial chegou ao Cemitério Amaral Ribeiro, em Sapiranga, no caminhão dos bombeiros. Familiares, amigos e colegas se despediram do sargento do Comando Rodoviário da Brigada Militar.

—  No velório, as pessoas vinham me abraçar e diziam: “Teu pai conseguiu tal coisa pra mim, me ajudou”. Ele não era assim só em casa. Nas enchentes, saía para cima e para baixo. Era um cara do bem, sensacional, tranquilo. Eu já falava isso para ele. Ele deixou um legado de bondade, honestidade, de vontade de trabalhar para construir as coisas — descreve a filha Bruna Flores da Luz, 33 anos.

Apaixonado pela profissão

Natural de Tenente Portela, no Noroeste, Paulo Aloir serviu ao 2º Regimento de Cavalaria Mecanizado, em São Borja, na Fronteira Oeste, em 1986. No ano seguinte, a convite de um irmão, mudou-se para a Região Metropolitana, onde os dois abriram uma lancheria, em Sapiranga. Foi quando conheceu Geneci, que se tornaria sua esposa por mais de três décadas.

Em 1988, Paulo Aloir atendia na lancheria, na Rua Rolante, quando um jovem policial entrou no estabelecimento. Durante a conversa, o atendente confidenciou que tinha interesse em seguir carreira na BM, e foi incentivado. O sonho se concretizou em 25 de agosto daquele ano. Nas muitas vezes em que os dois se encontraram no trabalho, Paulo Aloir mencionava esse encontro decisivo.

O policial começou o trabalho em Campo Bom e Sapiranga, no policiamento. Em 2008, passou a atuar no Comando Rodoviário, também em Sapiranga. A mudança de lotação deixou a família um pouco mais tranquila, por entender que o novo posto traria menos risco. Em 2014, o soldado foi promovido a terceiro-sargento, e em dezembro de 2021 se formou como segundo-sargento, função que ocupava atualmente. Aloir já poderia ter se aposentado, mas postergava o momento.

— Ele optou por seguir porque amava aquela farda. “Se eu parar, eu vou ficar doente”, ele dizia. De tanto que ele amava o trabalho dele, a rotina, a corporação. Tínhamos muito orgulho dele. Uma pessoa muito honeste, trabalhadora. Não faltava no trabalho. Semana passada, estava com dor de garganta, febre, e não quis faltar para não prejudicar os outros — diz Bruna.

Além de Bruna, Paulo Aloir e Geneci tiveram dois filhos: Jean, com 34, e o caçula, Gustavo, 22. A família se reunia todos os domingos para o almoço, e costumava a ir a eventos sempre junta. Paulo Aloir adorava cozinhar e receber pessoas em casa. Não necessitava de motivo especial para preparar um churrasco. O filho mais velho diz que, apesar do momento difícil, os relatos dos colegas e amigos sobre o pai ser considerado “uma grande pessoa, um irmão” amenizam um pouco o sofrimento.

— Com certeza, o pai partiu sabendo o quanto era amado e querido por todos que o rodeavam. O mesmo se dava em relação ao trabalho, que embora não falasse, sabíamos que a profissão era a vida dele — afirma Jean.

A nora, Claudia Becker, 33 anos, diz que foi acolhida na família como uma filha, e descreve o sogro como “uma pessoa maravilhosa”, que contagiava todos que o rodeavam.

— No trabalho, era reconhecido por todos como uma pessoa excepcional. Hoje, lidamos com um momento extremamente difícil, de uma vida injustamente interrompida. É complicado externar nosso sentimento de perda. Mas precisamos também dizer o quanto somos agradecidos a Deus por ele ter nos possibilitado conviver com alguém de coração tão bom, tão puro, disposto a ajudar a todos a sua volta — afirma Claudia.

Avô zeloso

Embora tivesse dificuldade em pensar na aposentadoria, Paulo Aloir sabia que essa hora iria chegar. A expectativa era de que isso acontecesse no próximo ano. Para ocupar e aproveitar esse período, o sargento planejava comprar uma casa na praia. Todos os anos, a família viajava junta para Santa Catarina e precisava alugar algum imóvel.

— Queria ter um lugar para ir. Ele, a mãe e as crianças — diz Bruna.

Quando o filho dela nasceu, em 2013, Bruna ainda estava cursando a faculdade de Administração — o pai sempre incentivou os três filhos a estudarem. Paulo Aloir e Geneci ajudaram a criar Eduardo, o primeiro neto. Seguiram auxiliando quando a filha precisava se ausentar para trabalhar. De manhã, antes da escola, o menino ia para a casa dos avós.

— Vô, o que a gente vai fazer hoje? — indagava o garoto na chegada.

Eduardo completa 10 anos em novembro. O avô estava preocupado com a organização da festinha e se comprometeu a presentar o menino com uma bicicleta. Antes de ir a Rivera, pesquisou diferentes modelos na internet. Na mesma viagem, também queria comprar, entre outros produtos, um ar-condicionado para o quiosque de casa.

— Ele era maravilhoso. Como pai, já era um doce. Com os netos, então. Ele amava aquelas crianças. No verão, comprava boias para a piscina, picolés, era uma algazarra. Ele amava aquilo tudo — recorda a filha.

Sargento não reagiu

O crime que resultou na morte de Paulo Aloir é investigado de forma conjunta pelas polícias do Rio Grande do Sul e do Uruguai. Ao ouvir testemunhas do crime, os investigadores descobriram que, apesar de estar armado, o sargento não reagiu ao assalto. Ao interceptar a van, os bandidos anunciaram o roubo e, ao se incomodarem com a demora para que a porta do veículo fosse aberta, atiraram. Além do policial, outro passageiro foi baleado na perna.

Os criminosos fugiram levando uma mochila com dinheiro e o celular de uma passageira da van. O carro e o telefone foram encontrados em uma casa na cidade de Santana do Livramento, no lado brasileiro. O caso é tratado como latrocínio, que é o roubo com morte. Uma das possibilidades investigadas é de que os assaltantes tivessem informações sobre o transporte de dinheiro na van.

Fonte : GZH 
Fotos : Arquivo Pessoal / Divulgação

Policial atuava no Comando Rodoviário da Brigada Militar, em Sapiranga.
Arquivo Pessoal / Divulgação

Em julho, sargento completou 56 anos, 35 desses dedicados à Brigada Militar.
Arquivo Pessoal / Divulgação

Sargento Aloir com a filha Bruna, o filho Gustavo e o neto Eduardo em formatura.
Arquivo Pessoal / Divulgação

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