Primeiro crime do ano aconteceu em Ijuí, no dia 5 de janeiro. Dois dos autores da região estão presos
Das nove mulheres vítimas de feminicídio até esta terça-feira (28) no Rio Grande do Sul, quatro eram moradoras da Região Norte.
Todas foram mortas dentro de casa por suspeitos com quem tinham envolvimento amoroso. A maioria deles não tinha antecedentes criminais. A Polícia Civil trabalha para combater os casos na região.
Os crimes do norte do RS aconteceram nas cidades de Ijuí, Frederico Westphalen, Carazinho e Machadinho (relembre os casos abaixo).
Todos os suspeitos já foram identificados: nos casos de Frederico Westphalen e Carazinho os possíveis autores estão presos; em Machadinho, o suspeito está em custódia no hospital; e em Ijuí, o autor tirou a própria vida depois de cometer o crime.
Nos casos do norte gaúcho, havia dificuldade dos órgãos de segurança em prevenir os crimes, uma vez que a maioria não tinha histórico de violência. No momento, o trabalho se volta para a prevenção e orientação das vítimas, disse a delegada Aline Dequi Palma, da 14ª Delegacia de Polícia Regional de Palmeira das Missões:
— Há uma crescente no grau de violência que, quando a vítima não toma uma atitude, como a denúncia, a violência tende a ir crescendo até chegar ao feminicídio, muitas vezes. Trabalhamos forte na prevenção e orientação, inclusive pela imprensa, levando orientação para as vítimas que não participam de ações presencialmente.
Os nove feminicídios deste ano se aproximam da marca de janeiro de 2024, quando foram 12 registros no Estado. Em entrevista ao programa Atualidade da Rádio Gaúcha, o chefe da Polícia Civil, delegado Fernando Sodré, afirmou que o mês é o “mais complicado” em casos de violência no RS:
— Podemos dizer, pelas estatísticas, que o mês de janeiro no Rio Grande do Sul é o mais complexo. Não sabemos se é por conta das férias escolares ou de uma série de fatores que impulsionam esses fatos. Mas temos incentivado os colegas para que estimulem as vítimas ao registro, e que sensibilizem cada vez mais o Judiciário a colocar (agressores) no programa da tornozeleira eletrônica.
A ferramenta consegue monitorar a localização do agressor e indicar um distanciamento que, se desrespeitado, a vítima é notificada via celular com a localização em tempo real, permitindo que possa solicitar ajuda ou fugir. A Justiça é quem escolhe em quais casos o dispositivo deve ser usado.
O Estado tem 2 mil tornozeleiras disponíveis e 175 estão em utilização. Na Delegacia de Polícia Regional de Palmeira das Missões, que engloba 29 municípios, uma única tornozeleira está sendo usada.
O baixo número, conforme Sodré, tem a ver com o dispositivo ser uma novidade e ainda não ter tanta mobilização do juizado para a instalação do aparelho:
— Os pedidos são encaminhados à análise do Poder Judiciário. Temos incentivado os delegados a provocarem a Justiça a solicitar as tornozeleiras, que indiquem que é importante, pois muitas vezes essa indicação não acontece.
O primeiro feminicídio registrado em 2025 no RS foi em Ijuí, no dia 5 de janeiro. Liane Prauchner, 59 anos, foi morta a tiros dentro de casa. O principal suspeito é seu marido, Adoniran de Castro Claro, 52. Ele tirou a própria vida depois de matar a esposa.
Conforme o delegado Amílcar de Souza, a investigação mostra que a motivação pode ter sido um transtorno psiquiátrico do autor, que estava em tratamento. Não havia antecedentes criminais ou qualquer histórico de desentendimento entre o casal.
O crime em Frederico Westphalen aconteceu no dia 16 de janeiro. A vítima, Ângela Stratmann, 35 anos, foi encontrada morta na varanda de casa. Conforme a delegada Aline Dequi Palma, a vítima levou pancadas na cabeça e o corpo apresentava sinais recentes e antigos de violência.
O suspeito é o marido da vítima. Ele foi localizado em Santa Catarina, no dia 21, e segue preso. No histórico, foi detido em 2022 pelo crime de tortura contra a mesma mulher, mas solto no final de 2023. Os dois voltaram a conviver depois da liberdade dele.
A vítima de Carazinho é Daniela da Silva dos Santos, 31 anos. Ela foi encontrada morta em um apartamento no bairro São Jorge, em 17 de janeiro. O corpo da mulher tinha ferimentos graves causados por golpes de faca. O suspeito de cometer o crime era seu companheiro e foi preso no dia 20.
Conforme a delegada Heladia Cazarotto, ele não tinha antecedentes criminais. Os dois moravam juntos havia pelo menos uma década e tinham um filho de 12 anos.
Marina Martins Lemos, 25 anos, foi morta a golpes de faca no último domingo (25). O crime aconteceu na casa da vítima, no centro de Machadinho. Segundo a polícia, o principal suspeito do crime é o companheiro de Marina, um homem de 31 anos.
Após o crime, ele tentou tirar a própria vida dentro da casa, mas foi socorrido a tempo e encaminhado ao Hospital Beneficente São João de Sananduva. Ele não tinha antecedentes criminais e, por estar entubado, ainda não foi ouvido pela polícia.
Os outro cinco assassinatos registrados no Estado foram nas cidades de Caxias do Su, Porto Alegre, Imbé, Passo do Sobrado e São Francisco de Assis. Pelo menos um dos autores segue preso, suspeito de cometer o crime em São Francisco de Assis.
Já os possíveis responsáveis pelos feminicídios de Caxias do Sul e Passo do Sobrado cometeram suicídio, enquanto o de Porto Alegre está foragido.
A reportagem não obteve retorno sobre o suspeito de Imbé, que havia sido preso preventivamente na data do crime.