Homem, detido por policiais militares em 21 de setembro, relatou ter sido torturado e morreu no presídio uma semana depois. Polícia Civil e BM abriram inquérito
A 2ª Vara Criminal de Bagé, na Região da Campanha, mandou abrir investigação sobre a morte de Charles Rone Rodrigues Salinas, 33 anos. Charles foi preso por policiais militares em 21 de setembro. Alegou ter sido espancado e ficou recolhido numa cela do Presídio Regional até 27 de setembro, quando morreu, após relatar dores intensas e dificuldades para respirar. A Polícia Civil e a Brigada Militar abriram inquérito para verificar se o apenado foi vítima de tortura, seguida de morte.
A Polícia Penal relata que o apenado passou mal na sexta-feira (27) e foi levado para atendimento médico, sendo medicado e retornando à prisão no mesmo dia. No final da tarde, policiais penais foram acionados por presos para avisar que o homem estava desacordado. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado e constatou o óbito.
A juíza Paula Ferraz, da 2ª Vara Criminal de Bagé, quer ouvir em audiência na segunda-feira (30) familiares de Salinas, testemunhas, PMs e policiais penais. Ela também oficiou ao Presídio Regional de Bagé que informe relato pormenorizado do atendimento médico dispensado ao preso. A mesma providência foi determinada ao Hospital Santa Casa da Caridade, onde ele foi atendido no dia da prisão e também no da morte.
O defensor do preso, Alex Barreto Vaz, pediu ao Tribunal de Justiça habeas corpus “post-mortem” para seu cliente. No documento, o advogado solicita que a prisão seja considerada ilegal e pede, também, prisão preventiva para os policiais militares envolvidos no caso.
O advogado admite que seu cliente tinha mandado de prisão por tráfico e que era dependente de drogas. Mas diz que Charles não resistiu à prisão e foi torturado. Conforme Vaz, presos relataram que Salinas vinha vomitando sangue ao longo da semana. O próprio preso atribuía isso a espancamento sofrido pelos PMs.
— Toda pessoa tem direito à dignidade, mas não foi o que aconteceu. Familiares gravaram gritos do Salinas ao ser preso e filmaram policiais colocando fogo em documentos dele, em frente à sua casa. Desde o momento em que foi espancado, o rapaz reclamou de dores, não conseguia caminhar e nem respirar direito. Até que morreu no presídio, apesar das tentativas dos agentes penitenciários de salvá-lo — reclama Alex Vaz.
O advogado, no pedido ao TJ, relata outros casos de supostos espancamentos praticados por PMs em Bagé. A Polícia Civil abriu investigação sobre o caso de Salinas, a cargo do delegado André de Matos Mendes. A Corregedoria-Geral da BM também determinou apuração do episódio.